quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ELEGIA A BESTA


                                                                      Getulio Cardozo


O animal envolvido numa manta
com otimismo keynesiano
diz “ vem,irmão”

uma hiena que me deu o caminho
e um pouco de ilusão

soubesse Dante
essa passagem secreta
essa comédia descrita em O Capital

então percorri o que já estava morto


cito o último relatório


a excessiva palidez do rio Hudson em fuga
o olhar triste do Minnesota
adeus, adeus JP Morgan
adeus Stanley Fischer



cito os hotéis de luxo
onde gritavam: viva Willian “Boss” Tweed,
político truculento e rei da corrupção!


e gênese


produzam as águas Caça F-14 Tomcat
bombardeiro B-52


Republic


o abominável Stix
uniformes repletos de glória
ouve-se tocar no velho pântano
do Downtwn Athletic Club
o telefone
de Wall Street
parece a voz de Frank Sinatra
mesmo assim o áureo F-14
parte para Republic
onde as águas do Missouri são serenas
e não há aqueles meninos
famintos da Somália



Senhor! Senhor!- Grita o velho Theodore Rooselvet
sob o jazz do gerente Louiz
e no maldito Fed o blues


financista miserável!


- Marilyn Monroel

as cores que George Washington pintou
não são ciprestes


- Smith e os juros olvidados da comédia?   


haverá bastante estupidez
para manter isso, diz
o gênio do jazz Duke Ellington
estão todos mortos e
persistem
nesse jogo de beisebol


domingo 16h30

um financista do outro lado do rio Hudson
diz ao irlandês rico
que não vale nada aquela peça de escafandro

um cara do Bronx
examinou aquilo, achavam
que pertenceu a Theodore Roosevelt
que nada!

outrora, deste lado em que o sol
se punha e que foi morada do horizonte
ficava o North Undersea Museum
aberto aos domingos
para os animais do Pentágono


       gospel gângster


Os Beatles rasgam rochas e colinas
pois são os altos desígnios de Rockefeller
os corretores da bolsa caem dos prédios
com pés de harpias
para as goelas de Cérbero
as asas velozes do míssil Tomahawk
dorsos nus da cordilheira do Himalaia
nas luminárias do firmamento 


Que lugar é esse? Perguntei a Whitman

a cítara se cala

nenhum deus pra jogar baralho comigo


vozes num trecho de túnel
talvez Madison Square


Nem ligam de viver espremidos
com negros e latinos
pois perderam o brilho e a vergonha

não é verdade que altos funcionários
viraram pó?

no Central Park
vim saber que se tratava do presidente
dos Estados Unidos. Aí me disseram rindo
que o calor e o frio disputavam com ele
o último duelo.

domingo, 16 de outubro de 2011

O FRÁGIL ALICERCE DO SOBRADO


Maycon Alves

O conjunto arquitetônico do início do século xx que se localiza na parte central da cidade ainda hoje é capaz de gerar longos debates e exercer o fascínio sobre grande parte dos transeuntes que ao redor da Praça da Matriz e do Rosário se locomovem. Quem por ali passa admira aqueles casarões de porão alto e de grandes proporções geométricas – as janelas são tão próximas da rua que até se houve a respiração dos coronélos. E já que estamos numa sociedade classista, não seria abuso dizer que não são poucas as manifestações que resgatam estes respiros. Veja-se, por exemplo, que a pequena burguesia mocoquense (novos ricos) adora arrematar antigos casarões de famílias “tradicionais” e vestirem seus tecidos ou, como novas cores – como na recente exposição de aquarelas retratando os sobrados – retocar o nosso passado. Fascínio e desejo de estarem ao lado dos vencedores, reproduzindo e se comportando como tais.
Mas acontece que está ficando caro para estes edifícios sustentarem a “fabricação histórica” da cidade apenas pelo coeficiente cafeeiro. Ou seja, é o mesmo que defender a Ditadura Militar pelo viés econômico do Milagre Brasileiro ou anistiar o malufismo paulista por um viés de segurança pública. O que pretendo dizer é que a nossa elite para se perpetuar no poder direcionando a vida política e econômica local, serviu-se durante muito tempo da fabricação do discurso de um possível progresso que agregaria toda a sociedade. Não veio. O que aconteceu foi o contrário. No entanto, se encararmos a concepção de progresso como determinadas características (energia elétrica, luz, telefone, escola, cinema, carro...) da sociedade urbano-industrial da primeira metade do século passado, veremos que o tal progresso (ou modernidade) desenvolveu-se dentro de uma esfera econômica e política muita restrita e, mesmo influenciando no platô urbano, não foi suficiente para integrar horizontalmente a população de baixa renda. 
Para vermos o quanto o abismo entre usufruir do progresso e não usufruir era longo, observemos o seguinte dado do IBGE num estudo datado de 1955, mas realizado em 1950: 71% de nossos habitantes estavam no campo. Algo talvez que não nos surpreenda, posto que a nossa força econômica provem da agricultura. No entanto, do outro lado, num total de 21 mil habitantes da cidade, 10 mil eram analfabetos. Porém o que é mais escandaloso é o número de matricula geral do ensino primário fundamental comum (1950): 3. 107 pessoas dentro de uma população urbana de 8. 651 e 21. 879 pessoas no campo. Ou seja, generalizando, apenas 3% desta população tinha acesso ao progresso.   

Café com sangue

Ainda na contramão da modernidade, vamos ter no final dos anos setenta um aumento de migrantes do campo para a cidade. Daí que a nossa elite, despreparada e torpe entrará  num turbilhão de decadência econômica e política perdendo espaço para novos agentes políticos que, embora reivindiquem a sua bandeira, não necessariamente descendem de grupos tradicionais da terra. Será um período em que o grupo denominado Itaiquara, liderado por jagunços políticos se dissolverá. E em 1972, será eleito o Padre Demóstenes com um vice extremamente fraco e inexpressivo, porém com uma forte arma de oposição: as linhas do jornal A Mococa.
E são das piores as condições do homem do campo e daqueles que estão vindos residir na cidade, mas que retornam para a roça como mão-de-obra muito barata: Cr$ 25,00 por dia. Isto se constitui parte do modos operanti de nossa elite agrária: exploração da terra e de mão de obra. 
Além da extrema dificuldade para sobreviver, o descaso para com o “bóia-fria” chega ao extremo: “foi às cinco horas da tarde. Eles moravam na fazenda e a filha na cidade, pois ela trabalhava na casa do patrão. Mandaram avisar que era para eles irem até a cidade, pois a filha estava passando muito mal na Santa Casa. Foram. Quando lá chegaram, encontraram a filha morta, toda rebocada de sangue e café, estirada à beira do fogão” (formigão, março 1976, pág 3). Talvez obra do destino de uma cidade, mas café e sangue sempre estiveram lado a lado desenhando o passado de Mococa. Neste sentido, creio que devemos soltar os vampiros pela cidade. 
Talvez hoje o dedo na ferida nem doa mais, mas devemos enfiá-lo. Todavia, mesmo sendo algo panfletário ou em desuso, reitero aos mocoquenses de origem humilde, ligados àquela gente pobre que migrou do campo e que sobreviveu ao massacre das zelite nativa, que não devemos reverência a estes prédios com símbolo de nobreza, pois suas sacadas e seus jardins de caramanchão são a antiMococa. É a negação e a desnorteação de nosso passado. E mesmo que o discurso de preservação do patrimônio histórico seja forte, reclame então, sobre o porquê de não se preservar o espaço daqueles que derramaram o suor trabalhando na lavoura.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FAROESTE EM CRISE


Getulio Cardozo


Roma, Babilônia, Baal, estão afundando e Marx está de volta. Wall Street desta vez tremeu as pernas. Está chegando ao fim o faroeste dos 1% mais ricos dos Estados Unidos.Os 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.

Em 17 de setembro, um grupo relativamente pequeno de pessoas frustradas com a crise financeira nos EUA e com a resposta que o governo do país deu a ela, acampou no Parque Zuccotti, na cidade de Nova York – próximo ao local onde estavam as Torres Gêmeas e próximo a Wall Street.

Uma semana depois, os nova-iorquinos começaram a acampar, 80 manifestantes foram presos e ao menos quatro foram atingidos por sprays de pimenta da polícia, quando marchavam pelo distrito financeiro de Nova York.

Depois de duas semanas, milhares de manifestantes se dirigiram à Ponte do Brooklyn e 700 foram presos, enquanto marchavam diretamente pelo famoso vão que dá nos bairros nova-iorquinos de Manhattan e do Brooklyn.

A ação se tornou conhecida como "Ocupar Wall Street", um trending topic que se tornou viral no Twitter, no Facebook e, como os organizadores esperavam, nas ruas.

Demorou, mas os 99% do Império começaram a se erguer.

Se tucanos, neoliberais quiserem saber o que está acontecendo, leiam Marx. A crise desenterrou o socialismo que imaginavam morto. No leito de morte, a tucanada brasileira assiste ao enterro da social-democracia.

(Com base em textos do site Carta Maior)