quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O NOVO HERÓI BRASILEIRO


Ricardinho Sales


Ele mostrou ao povo o que é ser humano, na maior acepção do termo. Mostrou à elite mesquinha que há mais ainda que se partilhar. Calou as oposições, (FH tá mordido de inveja) cativou o cidadão comum e os banqueiros do Fórum Econômico. Levou nosso nome pra todo o mundo valorizando nossa marca, nosso ser, nosso proceder. Achou petróleo (batizado com seu nome), proporcionou melhorias educacionais, sociais, culturais, matou vários coelhos com pauladas simples, mas bem aplicadas; fez sorrir a todos, mesmo os que o contrariavam; fez de si um personagem de si mesmo, mas a personificação da alma brasileira: Foi maior do que todos os que o antecederam, será maior por todo o sempre, outro (ou outra) não surgirá tão cedo, por várias gerações de nossa história vindoura. Nossos filhos, netos e bisnetos não terão o privilégio de não apenas ver, mas sentir um governante tão presente no dia-a-dia, com tantas transformações, realizações e fazendo tanto, com ações tão simples, mas tão esperadas. Proporcionar aos pobres universidade, luz, comida, carro novo, casa própria, crédito, poder de consumo, diminuir a desigualdade (tanto que a classe média é ressentida com ele, afinal de contas, quem mandou tratar pobre como gente?), lutar por gerar empregos apenas fortificando nossa indústria, (a Petrobrás é a 5ª empresa do planeta, mas faltou re-estatizar a Vale) sem baixar a cabeça pro capital estrangeiro e, no estrangeiro, falar de igual pra igual com os maiorais, liderando a expansão do G-8 pra G-20, começar um processo de paz com o Irã, até então um problema mundial, que resolveu com alguns minutos de conversa franca e honesta, açambarcando respeito e dignidade nunca antes vistos em nossos história com um governante tupiniquim. Tanto que os figurões do Conselho de Segurança da ONU ficaram bicudos e vetaram o acordo com o mesmo Irã.

Com seu carisma, toca a alma e o coração do povo. Um povo que lhe é devoto, não por subserviência, mas por gratidão. Ele arranca lágrimas minhas e de muitos outros irmãos brasileiros vez ou outra, não por raiva ou revolta, mas por emoção, devoção, de nos fazer sentir privilegiados por receber tão digno e tão cativante líder, que defendeu nosso país e nos tornou protagonistas mundiais de nosso destino. Hoje, temos orgulho de ser brasileiros, pois sabemos (e repito, sentimos) um país mais justo, moderno, crescente, forte, pujante. Uma terra próspera, mais rica, mais pronta, mais soberana e em franco progresso.

Não usou capas nem cueca por fora da calça. Não lança teias nem tem  garras de metal. Não precisa de raios laser nem raio nenhum. Apenas ousou existir, de peito aberto, cabeça erguida e conciliando aqui e ali, já que, sim, tem uma lábia poderosa. Mas usada para o bem-estar social que hoje vemos. Não conseguiu fazer tudo o que se queria dele, mas fez demais, e do mínimo que éramos nos levou ao patamar máximo, vide a sua popularidade nesse final de governo. Ao redor do mundo, não há governante tão bem-avaliado. 87% não é pra qualquer um. E os governantes do mundo todo pagam pau pra essa popularidade imensa, da qual não usurpou. Se quisesse, fazia um plebiscito sobre o terceiro mandato e ganharia fácil, fácil. Depois faria um quarto, um quinto, uma ditadurazinha (palavras dele), mas preferiu não brincar com a democracia, de uma república que sabe que está, hoje, aos seus pés.

O cara sem pose, na humildade, sabendo chegar e que ninguém quer que saia. Esse perfil marcou nossa rotina. Era também o presidente do espetáculo, sim, com um pouco de maldade da minha parte, deu aos brasileiros muito pão, mas com Dilma vai faltar circo. E deixa um legado que pra mim é o melhor: deixou a classe média ressentida. Hoje, o pobre pode o que só ela podia. Hoje o pobre entra onde só eles entravam, compra o que só eles conseguiam, consome o que só eles tinham condição de consumir. E eles o-d-e-i-a-m essa parte. Pegaram asco de Lula porque nosso guia fez pobre virar gente. Hoje, pobre não se submete mais a qualquer coisa. Tem lugar que tá difícil arranjar empregada, faxina e porteiro porque o pobre hoje ascendeu e, quando aceita, põe condições e preços justos, confiantes e de cabeça erguida. A classe média não aceita isso. E lê a “Veja”, assiste a “Globo” pra alimentar mais o ódio. Por isso queriam Lula fora. Adora ver a cara de “nojinho” da elite pálida e mesquinha. Hoje os pobres frequentam até os clubes do interior, antes restritos ao pessoal criado à base de leite ninho.

Cometeu erros, mas quem não os comete? Soube contorná-los e deles tirar lições. Entre eles, o de conseguir a Copa e as Olimpíadas. Vai sobrar dinheiro pra muito corrupto por causa disso, e o Brasil podia deixar pra depois. Talvez a Copa pra 2018, e as Olimpíadas pra 2020, seria o ideal. Agora ainda tá meio cedo, mas ele não é de perder oportunidade.

Fez a sua sucessora e, por maior bem que ela faça, qualquer escorregada o fantasma do criador irá pairar sobre a criatura. E o povo não tardará a clamar novamente por seu nome, Lula.

Lula, o grande mestre da política, sai do poder com toda a gratidão de um povo que, sob sua regência, se tornou orgulhoso, forte, autoconfiante e grato, que o admira e se emociona com o líder que ousou, em tempos de competição e individualismos, olhar de igual pra igual pra todos, em todo o lugar.

Dias atrás, eu via o jornal na TV e minha filha de 10 anos me acompanhava. Ela falava comigo. Lula apareceu, eu pedi pra que ela parasse pra ouvirmos juntos. Ela me perguntou por que eu prestava tanta atenção em Lula, eu retruquei que ele era o meu herói. Nossos olhares se encontraram, meus olhos marejavam, ela entendeu e me abraçou, dizendo que eu tinha razão: “ele faz a gente ter orgulho, né, papai....” E me abraçou. Tive a certeza que estava certo no que eu disse. Luther King, Gandhi, Lennon, Bento Gonçalves, Che Guevara, Bob Marley, Tupac Shakur, Zumbi, João Cândido, Chico Mendes, Lula faz parte desse panteão. Dos grandes líderes que, cada um ao seu jeito, revolucionaram seu entorno e adjacências.

Ao contrário de outros presidentes, Lula é o único que deixará saudades. E não será sem razão. E, sim, ele será sempre o meu herói preferido.

Ricardinho Sales é diretor de teatro, poeta e educador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário